Jornadas de Mobilidade Elétrica do ISEP (3/4 junho 2022)

Junho 14, 2022

A ANCIA esteve presente nas Jornadas de Mobilidade Elétrica do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) que decorreram nos dias 3 e 4 de junho de 2022, no Auditório Magno deste Instituto.

As jornadas tiveram como objetivo analisar o estado atual da mobilidade elétrica, em todas as suas vertentes: políticas da mobilidade elétrica; tecnologia (motores elétricos, baterias, carregamento, tecnologia veículos); veículos autónomos; sistemas de gestão da mobilidade; inspeção e manutenção de veículos elétricos; conversão de bicicletas e automóveis; testemunho de utilizadores de veículos elétricos.

A Sessão de Abertura contou com a presença do Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, que abordou a mobilidade elétrica, destacando-se a questão associada à instalação de novos postos de carregamento de veículos elétricos, maior agilidade do IMT I.P. para a transformação de veículos de combustão em elétricos e o foco do Governo na economia circular.

O primeiro painel, com o tema “Gestão Integrada da Mobilidade”, contou com intervenções de Teresa Ponce Leão, APVE, Carlos Mouta, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Carlos Santos e Jorge Santos, Bosch (Autonomous Vehicles: SW Testing Challenges).

Nesta sessão foi debatida a estratégia da Europa no que se refere ao gás e a dependência da Rússia, assim como a crise derivada da guerra e o consequente aumento dos preços, num contexto de pandemia COVID-19 e a ausência de reservas na Europa.

Foi ainda suscitada a importância da Cimeira sobre as alterações climáticas (COP26), o Plano REPowerEU em resposta às dificuldades e às perturbações do mercado mundial da energia suscitadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, plano este que visa: a poupança energética, a produção de energia limpa e a diversificação do nosso aprovisionamento energético e a relevância do Porto de Sines neste contexto.

Foi ainda destacado o crescimento exponencial do mercado de veículos elétricos e a necessidade de aumentar os postos de carregamento, em particular, nas zonas com menor densidade populacional e no interior do País e, paralelamente, a urgência da utilização de materiais reciclados na construção de veículos.

O segundo painel, com o tema, “Infraestruturas de Carregamento”, contou com intervenções da E-Redes que abordou o tema relacionado com os veículos elétricos na rede de distribuição de eletricidade, tendo referido a expetativa do carregamento dos veículos elétricos ocorrer maioritariamente em edifícios e que, em função da evolução da tecnologia nos “smart buildings” para gerir os carregadores, os mesmos poderão participar na otimização local e global do sistema, tendo ainda referido que os veículos elétricos podem tornar-se um ativo valioso para o sistema elétrico.

Da apresentação da empresa i-charging (Tecnologia para a mobilidade elétrica) foram apresentados os carregadores DC Blueberry que permitem carregar veículos com tensões na bateria entre 150V e 1000V e utilizam a tecnologia patenteada Dynamic Blue, que possibilita a partilha de potência de forma dinâmica por vários veículos. Os carregadores permitem o uso dos equipamentos por via de uma App móvel, onde é possível adicionar cartões de pagamento ou criar cartões virtuais, facilitando o interface do utilizador.

No terceiro painel (Fontes de Energia e Tecnologias de Veículos Elétricos), tiveram lugar intervenções de Manuel Costeira da Rocha, SmartEnergy (Os desafios da mobilidade baseada em fuel cells) e de Tiago Ramos e César Ribeiro, Caetano Bus (As soluções de mobilidade sustentável da Caetano Bus).

Das intervenções deste painel, foi efetuado pela SmartEnergy um historial do veículo elétrico tendo sido referido que os automóveis começaram por ser elétricos e apresentavam grandes vantagens, nomeadamente, eram mais fáceis de operar, não tinham mudanças e eram silenciosos.

No entanto, e não obstante as vantagens dos veículos elétricos, esta tecnologia foi descontinuada e começaram a perder a sua posição no mercado devido a um conjunto de fatores, designadamente, a construção de melhores vias e a consequente necessidade de percorrer maiores distâncias, associado à descoberta de grandes reservas de petróleo que originou a disponibilidade de combustíveis a preços acessíveis.

Na verdade, ao longo do tempo, e não obstante as virtudes dos veículos elétricos, o certo é que os mesmos foram suplantados pelos veículos a combustão interna que se vieram a revelar prejudiciais para o meio ambiente.

Nesta intervenção, foi destacado que a maioria da energia que consumimos não está relacionada com os transportes, que são uma fração relativa pequena e, em termos de consumo global de energia, os transportes são ultrapassados pelos setores residencial, comercial e industrial e, não obstante o consumo total de energia nos transportes em Portugal ter apresentado reduções sensíveis nos transportes de mercadorias, deve ser melhorada a eficiência energética do setor.

Da intervenção da Caetano Bus com o tema “As soluções de mobilidade sustentável da Caetano Bus (BEV e FCEV)”, foram apresentadas as soluções da empresa em termos de mobilidade (elétrico e hidrogénio), tendo destacando o facto da empresa efetuar a transformação de veículos de combustão em elétricos desde o ano de 2013.

O quarto painel destas jornadas, com o tema “Mobilidade Sustentável”, contou com intervenções da Capgemini Engineering (Voo perpétuo), Hyundai Portugal com o tema “Evolução das normas de emissões de gases poluentes (Euro X) e impacto no mercado automóvel (preços, volume eletrificação, etc)” e da empresa ASTECH – Automotive Solutions Technologies (Desenvolvimento do veículo elétrico português e respetivo conceito de sustentabilidade).

Das apresentações neste painel, destaca-se a intervenção da Hyundai sobre a evolução das normas de emissões de gases poluentes (Euro X) e o seu impacto no mercado automóvel, tendo sido abordado o plano da União Europeia para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 55% até 2030 denominado “Fit For 55” e os custos para a indústria associados à implementação deste plano.

Ainda no âmbito deste painel, de salientar a apresentação da empresa ASTECH – Automotive Solutions Technologies que efetuou a antevisão do primeiro veículo elétrico português denominado E-Car.

No segundo dia das jornadas (Sábado, 4 de junho), decorreu a Mesa Redonda – Mercado Automóvel do Futuro que contou com a participação dos seguintes intervenientes: Manuel Reis, Vice-Presidente, UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos; Alexandre Marvão, Team Leader House Management, Deco/Proteste; António Comprido, Secretário-Geral da APETRO; Hugo Barbosa, Diretor de Marketing e Comunicação, Renault Portugal e Vasco Rodrigues, Pinto & Cruz. Deste painel, importa salientar o seguinte:

(i) No futuro, o automóvel deixará de ser encarado como um bem material e tenderá a ser a prestação de um serviço;

(ii) Os carregadores rápidos vieram resolver um grande problema dos veículos elétricos, no entanto, e de acordo com diversos estudos, o estado da bateria é afetado pela frequência com que um veículo é carregado através do carregamento rápido, recomendando-se o uso limitado deste tipo de carregador, assim como o carregamento da bateria antes que fique totalmente vazia;

(iii) Os veículos elétricos, devido às baterias, são normalmente mais pesados do que os veículos de combustão, sendo, em média, 20% a 30% mais pesados, justificando a necessidade de pneus de alta qualidade e mais seguros para as diversas condições de condução, constituindo uma das principais preocupações de segurança rodoviária destes veículos;

(iv) As emissões dos gases de escape têm sido rigorosamente reguladas na Europa, no entanto, existem poluentes que não derivam do escape, designadamente, as emissões de partículas derivadas do desgaste dos pneus e do uso dos travões que emitem mais partículas que os gases de escape;

(v) O desenvolvimento de novas baterias para os veículos elétricos com utilização de outros materiais (substituição das baterias de lítio por sódio), assim como a apresentação sobre o Toyota Mirai a hidrogénio (modelo comercializado nos EUA e no Japão), tendo sido exibido um vídeo promocional deste veículo onde se demonstra como é possível transformar praticamente qualquer coisa em combustível/hidrogénio.

(vi) A reutilização das baterias dos veículos elétricos para outras aplicações, designadamente, para armazenamento de energia elétrica (Ex: edifícios de empresas, habitações, etc), tendo a RENAULT referido o programa Smart Fossil Free Island na Madeira;

(vii) O Pacto Ecológico Europeu “Green Deal”, iniciativa da Comissão Europeia para que a Europa se torne neutra em carbono até 2050 e as propostas para remover, reciclar e armazenar carbono de forma sustentável. Na discussão da meta da Comissão Europeia em eliminar os combustíveis fósseis até 2050, destaca-se a posição da APETRO sobre as alternativas à eliminação dos combustíveis fósseis de modo a atingir a neutralidade climática e a promoção de combustíveis neutros ou de baixo carbono para a descarbonização da economia, tendo ainda sido abordadas as tecnologias sobre a captura e remoção de CO2 da atmosfera para, posteriormente, ser transformado em combustível sintético que pode ser usado no transporte.

Durante o evento decorreu uma exposição de veículos elétricos e a possibilidade de test-drive (vídeo oficial das Jornadas).

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