Tratores mataram 129 pessoas nos últimos dois anos

Fevereiro 13, 2017

Os acidentes com tratores aumentam de ano para ano e continuam a matar dezenas de portugueses. Em 2016, houve em média 12 sinistros por semana com máquinas agrícolas. Em 672 sinistros perderam a vida 71 pessoas. Olhando para os últimos dois anos, contam-se 129 mortos.

Os alertas das autoridades, em particular da GNR que até já fez ações de sensibilização nas homilias das missas, parecem cair em saco roto. A robustez do veículo lento, julgado imparável em qualquer terreno, ilude os condutores. Arriscam manobras perigosas (sobretudo nas tarefas agrícolas) e, não raras vezes, as consequências são fatais. Esta semana, houve mais duas vítimas em Viana do Castelo e em Bragança.

O capotamento é a principal causa de morte dos condutores e dos penduras, muito por resistência ao uso do arco de Santo António e do cinto de segurança. Abundam veículos velhos a operar, ano após ano, sem manutenção devida. Um dos grandes obstáculos à ação fiscalizadora da GNR reside no facto de a maioria dos sinistros ocorrer em terrenos privados. Há viaturas que não saem às estradas. A maioria só circula em propriedade privada, escapando à fiscalização das autoridades.

Das 71 pessoas que morreram em tratores no ano passado, 52 estavam a trabalhar no campo. Apenas 19 faleceram na sequência de sinistros na via pública. Ainda assim, os números de fatalidades em ambos os parâmetros foram mais negros no ano passado do que em 2015. A GNR registou também mais acidentes. Feitas as contas, 2015 fechou com 570 sinistros.

Em 2016, ocorreram mais cem. Os dados da GNR apontam para um total de 672 acidentes em 2016. Coimbra, que já era um dos quatro distritos do país com maior número de sinistros com tratores, saltou para a negra liderança. Contam-se 77 acidentes no distrito, mais 29 do que em 2015. Seguem-se o Porto, Aveiro, Santarém e Viseu.

 

Novas sanções em estudo

O diagnóstico está feito. No verão passado, o Governo criou um grupo de trabalho para analisar e apontar caminhos que travem este flagelo e promete implementar ao longo de 2017.

Também o Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária (PENSE 2020), cuja discussão pública terminou a 8 de janeiro, defende o desenvolvimento de um plano de combate à sinistralidade com tratores. Uma das novidades é a criação de um novo regime legal de sanções, visando, por meio da aplicação de coimas, convencer os condutores a utilizarem os sistemas de retenção e a colocarem os avisadores luminosos nas viaturas.

Dada a dificuldade das autoridades em fiscalizarem o estado e as condições de segurança das máquinas agrícolas, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes está a estudar a viabilidade da realização de inspeções obrigatórias. Os tratores poderão ter de submeter-se a avaliações nos centros de inspeção automóvel, com uma rede disseminada pelo país.

Até junho, os ministérios da Administração Interna e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural comprometeram-se a colocar em marcha um “controlo efetivo” de tratores usados e vendidos no mercado de segunda mão, nomeadamente as viaturas importadas e não homologadas em Portugal. Essa fiscalização ocorrerá no âmbito do processo de atribuição de matrícula.

Notícia publicada no Jornal de Notícias.

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