Janeiro 10, 2019
Francisco Ferreira, presidente de direção da Associação Zero considera que a poluição atmosférica está diretamente relacionada com a circulação automóvel. A revista ANCIA aproveitou a presença deste conhecido ambientalista no debate sobre a “utilidade das inspeções para a segurança rodoviária”, para o entrevistar.
Para Francisco Ferreira a redução da poluição proveniente da circulação rodoviária “é uma prioridade, pois esta acontece sobretudo nos centros urbanos e tem influência direta na saúde da população”.
Francisco Ferreira reconhece que existem outras fontes poluentes muito importantes no sistema de transportes que são pouco criticadas, como é o caso dos navios cargueiros, contudo “porque essa poluição acontece sobretudo no meio dos oceanos e a prioridade deve incidir sobre as fontes mais próximas da população”.
Para este ambientalista é especialmente preocupante “a ultrapassagem dos valores de ruído em muitas cidades devido ao uso dos veículos, sejam eles ligeiros ou pesados e, no que respeita à qualidade do ar, há áreas onde vários poluentes superam os valores limite, com consequências dramáticas para a saúde”.
A Associação Zero calcula que haja uma perda de esperança média de vida na ordem dos seis meses devido ao dióxido de azoto e às partículas que provêm diretamente do tráfego rodoviário. A este fator acrescenta-se a emissão de gases de estufa, fenómeno para o qual o setor dos transportes representa 25% das emissões, sendo que o transporte rodoviário é a principal fonte.
“Os carros sustentáveis vão fazer parte do futuro, sejam eles elétricos ou com motor a hidrogénio” – acredita o presidente da Associação Zero, para quem “já existem várias análises que confirmam que se a eletricidade for proveniente de fontes renováveis, é possível garantir uma grande diminuição do impacto do tráfego rodoviário na emissão de gases com efeito de estufa e outros poluentes”.
Para que os carros elétricos sejam ambientalmente sustentáveis é necessário garantir que pelo menos 95% da sua composição inclui materiais reciclados e que no final de vida as baterias são corretamente encaminhadas ou recicladas.
“No caso do automóvel com motor de combustão dever-se-á ter sempre em conta as emissões que produz, uma vez que um carro com baixas emissões de dióxido de carbono é também um carro com baixos consumos de combustível” aconselha Francisco Ferreira.
“Para além de uma condução segura e ambientalmente correta, deve-se cuidar do veículo desde a compra ao desmantelamento, porque essa atitude será uma grande ajuda para o ambiente”, referiu.
Francisco Ferreira defende que “os carros elétricos podem ganhar mais adeptos, sendo necessários novos incentivos que ajudem os automobilistas na aquisição destes veículos. Em 2018 os incentivos à compra de mil veículos esgotaram rapidamente e a associação considera fundamental que esses apoios continuem pelo menos nos próximos três anos, até que o preço dos carros elétricos baixe para valores mais acessíveis.”
O líder da Zero defende também a necessidade de uma inspeção técnica de veículos eficiente, mas falta ainda “legislação e que as exigências sejam maiores”. O ambientalista refere ainda que “os centros não estão em condições de acompanhar e detetar alguns fenómenos, como, por exemplo, a confirmação do estado do filtro de partículas ou fazer uma análise de poluentes que cubra todas as valências que seriam desejáveis”.
O ativista referiu também que em várias cidades “é registada uma grande poluição de dióxido de azoto, contudo, esse poluente não é avaliado no âmbito das inspeções. Seria útil atualizar os parâmetros das inspeções de forma a garantir que os veículos estão a ser devidamente avaliados e que as especificações com que foram vendidos não foram alteradas pelos consumidores” – defende Francisco Ferreira.
Segundo este ativista ambiental, as cidades devem estar preparadas para serem mais “amigas das pessoas, com menos ruídos e mais modos suaves”. Por enquanto, o automóvel continua a ser um veículo indispensável para a distribuição de mercadorias e para a proximidade dos passageiros “mas se tivermos o transporte público a servir essas zonas talvez não precisemos de ter tantos automóveis nos centros das cidades como atualmente temos.”